O
vice-presidente da Sennelier e Raphael incentivou artistas não somente da Bretanha,
organizando encontros de pintura ao ar livre com os artistas do grupo couleurs de Bretagne na route des impressionistes, e da França, mas
também pelos 38 países por onde passou.
Jean Roch sabia ligar as pessoas, conectando-as
pelo amor à arte, às cores, sempre com generosidade. Por esta razão, vários
artistas, de diferentes países o chamavam de l´âme (a alma) de Sennelier e Raphael.
Da mesma maneira que Père Tanguy levava as cores até os impressionistas,
nos locais em que pintavam, Mr. Sennelier escutava os artistas e criava novas cores e produtos para atender suas
necessidades.
Jean-Roch seguiu esta tradição, sendo um dos maiores experts em cores do mundo
contemporâneo. Atendia atenciosamente aos desejos e necessidades de artistas.
Selecionava pigmentos das mais diversas procedências e, juntamente com
seus químicos e cientistas escolhia os melhores e mais compatíveis para cada fim e, depois levava as cores aos
quatro cantos do mundo.
Patrocinava artistas que selecionava. Identificava talentos e apoiava a arte,
sem fronteiras, vigilância estética ou ideologia. Colecionava obras de seus
artistas preferidos, livros, instrumentos musicais, conhecimento, com a mesma
atenção que colecionava amizades.
Eu tive a honra de ser escolhido para ser um de seus mais caros amigos, desde
2002, tendo a chance de conviver com este Pére Tanguy da contemporaneidade
também em 2006. Jean Roch escutou atentamente minhas propostas de criação de
novos materiais artísticos e forneceu cores e desenvolveu novos materiais para
que eu pudesse empregar em minhas obras, que beneficiam minhas pinturas
trifásicas, há anos.
Caetano Ferrari, Jean Roch Sauer e Ronaldo Dimitrow, na loja Pintar, em 2002, São Paulo.
No Brasil, onde esteve por algumas vezes, Jean-Roch
Sauer nutriu longa amizade por Caetano Ferrari,
um dos maiores conhecedores de materiais artísticos, consultor das melhores
lojas Brasileiras de materiais artísticos, informando artistas, aconselhando
bibliografias e orientando as melhores indústrias de materiais artísticos de muitos países.
Contrariando a conduta da maior parte dos industrias do ramo,
que se fecham em segredos industriais e quebram o canal de diálogo e
aprendizado com os artistas, Jean-Roch abria as portas
da sua conceituada empresa multinacional para os artistas, para que eles testassem seus
produtos, emitindo opiniões, e durante a atenta e especializada escuta,
selecionava as melhores propostas e inspirando-se nas necessidades de seus
interlocutores, criava os novos produtos da Sennelier.
Tivemos uma relação de amizade e partilha de conhecimentos, uma espécie de espionagem mútua, que o trouxe até o Brasil, interessado
nas fórmulas que eu desenvolvia, mas também em conhecer melhor nosso
país.
Só podemos chamar de mestres aqueles que partilham conhecimentos.
Eles são raros, mas ainda existem, contrariando uma maioria que se apropria da
arte sem realmente estudá-la, prescrutá-la, esmiuçá-la como um anatomista,
um alquimista, ou um chef de cuisine.
Sérgio Prata |