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Ícones

A ARTE DO ÍCONE
por Geneviève Gouverneur

O ícone permanece uma arte sagrada, pertencente à Tradição da Igreja Ortodoxa; é por isso que os ensinamentos dispensados nos Ateliês levam em conta não somente a beleza e a qualidade artística, mas também a conformidade à uma verdade teológica, “pois aquilo que o Evangelho diz pela Palavra, o ícone anuncia pelas linhas e a cor” (Concílio de 787). O ícone prolonga a Palavra evangélica.

A Palavra e a imagem são então a expressão do ensinamento da Igreja.

Certo número de regras iconográficas asseguram a autenticidade desta arte. As representações não são anedóticas, psicológicas ou quotidianas como na pintura profana; pelo contrário, esta arte comunica ao espectador um estado interior e espiritual, aquele da oração.

O ícone, por meio de símbolos coerentes e profundos tal como as perspectivas invertidas, as proporções dos corpos, o aspecto desmaterializado e a exageração de certos detalhes, dá acesso a uma mensagem única do mistério e da salvação, uma contemplação da Palavra e não uma emoção estética ou pura contemplação de idéias.

O iconógrafo jamais representa personagens imaginários mas se refere sempre a uma realidade histórica; ele não inventa.

A imagem reduzida ao mínimo de detalhes favorece sobretudo a expressão e traduz também o caráter lacônico e sóbrio da Escritura Santa. O ícone possui em si mesmo o valor da predicação. Neste sentido, ele sempre é “dogmático”: “Deus Se encarna e Se faz Homem para que o homem torne-se deus.”

O ícone confessa a Encarnação de Cristo “Eu represento Deus, o Invisível, não enquanto invisível mas na medida em que Ele tornou-Se visível para nós, participando na carne e no sangue” (João Damasceno - Or, pg. 94, 1236 c). Trata-se, então, não de adorar a imagem, mas de venerá-la, pois que a honra rendida à imagem alcança seu protótipo.

É pelo fato de ser possível pintar o Cristo que é também possível representar iconograficamente Sua Mãe, Seus Santos e todos aqueles que andaram segundo Ele, bem como aqueles que O anunciaram, quer dizer os Profetas.

A Encarnação de Cristo autoriza então a pintura dos ícones como confissão da fé cristã. Desde o VI século, a linguagem pitoresca do ícone está estabelecida. É o início da arte que será chamada Arte Bizantina.

Abordemos, primeiro, a parte técnica da realização do ícone.

O suporte de todo ícone é uma prancha de madeira cuja essência difere seguindo as regiões: podemos utilizar a tileira, o carvalho, o cedro, o cipreste; estas madeiras devem estar bem secas antes da utilização (10 anos de secagem são geralmente necessários). A prancha escolhida para a pintura do ícone é muitas vezes estabilizada pelas travas de madeira de madeira mais dura, fixadas no dorso.

Elas impedem a deformação da prancha. Sobre a parte destinada à pintura, a prancha será escavada no centro, deixando aparecer as bordas que podem ser mais ou menos largas. Simbolicamente, este quadro evoca os cofres de relíquias e confere ao sujeito representado um caráter precioso. As bordas sugerem também a idéia de uma janela; dizemos, em efeito, que o ícone é uma “janela aberta para o mundo invisível”.

A prancha é então revestida com a ajuda de uma cola de origem animal, em seguida coberta por uma dezena de camadas de um preparo composto desta mesma cola, à qual adicionamos gesso cré (blanc du Meudon, em França). Este preparo se chama LEVKAS, palavra grega significando branco. O levkas deve ser cuidadosamente lixado a fim de obter uma superfície absolutamente lisa.

As etapas seguintes serão aquelas do grafismo, efetuado segundo os modelos existentes e tradicionais, depois a colocação das folhas de ouro sobre o fundo e a auréola. É somente neste momento que o iconógrafo procede à “abertura do ícone”, quer dizer a colocação das diferentes cores em suas cores mais escuras, inspirando-se na Gênesis, à imagem da criação do mundo em seis dias.

O trabalho do ícone torna-se uma lenta subida das trevas em direção à luz, do caos primário à vida; isto é realizado por uma sucessão de camadas gradativamente claras culminando neste sexto dia da criação, no curso do qual Deus sopra nas narinas de Adão par lhe dar a vida.

Este sexto dia é simbolizado pelas “últimas luzes”, fase importantíssima que conclui o ícone com a posição das inscrições e dos nomes. As cores empregadas pela técnica do ícone são terras queimadas e calcinadas ou óxidos metálicos misturados a um ligante cuja base é a gema de ovo. Um verniz final, à base de óleo de linhaça de alta qualidade com resinas, recobre o ícone então concluído.

O ícone assim concluído torna-se verdadeiramente um Templo construído à glória de Deus. A benção completará de vez a obra e o Santo representado estará realmente presente em seu ícone, justificando uma outra denominação deste: “o lugar da Presença”.

Ele poderá a partir de então tomar lugar na igreja participando à Liturgia, ofertado aos olhares e à oração dos fiéis, testemunhando uma realidade que não é deste mundo; mas, poderá, da mesma maneira, entrar nas casas, tornando-se fonte de santificação e de bênçãos para todos os habitantes.

A iconografia em sua totalidade encontra suas raízes na Bíblia (Antigo Testamento e Novo Testamento). Sujeito algum é imaginário. Trata-se de imagens reais cuja verdade se situa depois da segunda vinda de Cristo, quer dizer da Parusia. E para ter acesso a este além, o ícone utiliza uma linguagem feita de linhas, de cores, de símbolos aptos a nos instruir no mistério de um mundo que não é deste mundo.

O ícone é uma pintura sagrada, realizada numa atmosfera de ascese e de recolhimento, segundo os modelos muito pouco variáveis. Os ícones conhecem uma veneração comparável àquela das relíquias.

Alguns têm uma origem miraculosa, ou são festejados em uma data fixa em memória de um milagre que lhe atribuímos. A maioria dos ícones do Cristo, da Trindade e da Mãe de Deus são nomeados segundo o tipo de representação escolhida ou ainda o local onde o Ícone apareceu ou se ilustrou, por vezes até segundo as palavras de cântico, um detalhe de sua posição ou de sua composição.

Pode até acontecer que os ícones sejam recobertos com metais preciosos e pedras, apesar do rosto e das mãos permanecerem expostos. Esta prática é bem tardia e não adiciona nada ao senso dogmático.

Nas igrejas ortodoxas, os ícones ocupam lugares determinados sobre a Iconostase. Eles estão igualmente presente nos lares ortodoxos; podem encontrá-los no “Canto dos ícones”, ou ainda “Belo Canto” ou “Canto vermelho” da casa. Diante dos ícones arde uma pequena lâmpada, símbolo da oração que se perpetua.

Os ícones são transportados nas procissões e também colocados junto ao defunto, em seu leito de morte.

Assim como a hinologia e o canto, a iconografia não está reduzida a uma categoria estética ou decorativa mas exprime a totalidade do ensinamento da Igreja, o que permite dizer que o ícone é a transcrição da Escritura Santa em linha e em cor.

Assim, podemos falar de “teologia em imagens”. A pintura dos ícones é a expressão dogmática da Fé Cristã formulado ao curso do VII Concílio Ecumênico de 787 em Nicéia.

A possibilidade de pintar ícones decorre do dogma fundamental da Igreja: A ENCARNAÇÃO DE DEUS.

Como diz São João Damasceno, um dos grandes teólogos do ícone: “eu represento o divino INVISÍVEL não enquanto invisível mas na medida em que Ele Se tornou visível para nós ao participar da carne e do sangue”.

A pintura de ícones é importante atualmente por mais forte razão: de um ponto de vista teológico, o ícone favorece o retorno às fontes do Cristianismo ocidental, tão característico de nosso tempo; de outra forma, constitui uma resposta ao mundo moderno, afundado no impasse de um humanismo secularizado.

Face aos progressos científicos e técnicos, face às ideologias, o ícone testemunha pela imagem da Plenitude original da Revelação cristã; neste afrontamento, ele prova igualmente a presença agente de Deus no mundo.

 

 

 

 

 

 

Geneviève Gouverneur, autora do texto acima, foi professora da Monja Rebeca, co-autora do curso online de iconografia.

 

ICONES

 

 

 

 

 

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