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Homenagem à Geraldo Duarte (Diko)

Conheci o Dr. Geraldo Gonçalves Duarte na década de 80, em Paris, quando lá estudava na Ensb-A.

Geraldo tinha como companheira a Edna, que preparava em seu ventre o seu filho Pablo. Em gestação já avançada, o casal era tão simpático que acabaram insistindo pra que eu os retratasse nas paredes de sua casa.

Desenho e painel mural com Edna e Geraldo, na residência do casal, na França. Autor: Sérgio Prata.

 

Como podemos ver nas fotos acima, fiz um um primeiro desenho em crayon sanguine, com Edna completamente grávida, e algumas mudanças foram feitas, à pedido do casal, na pintura mural.

Geraldo era formado em psiquiatria, era mais velho e experiente do que eu, e se tornou assim um amigo que sempre estava pronto para a escuta e o aconselhamento, com aquela postura cautelosa e sábia, própria daqueles que se capacitam nos mistérios da mente humana.

Tive a alegria de ser o primeiro amigo a visitar o recém nascido Pablo, no hospital de Pithiviers, onde o Dr. Leboyer implantou o parto sem dor.

Essa era a época em que fiz minhas primeiras exposições, no Castelo de Chamarande e na Prefeitura de Etrechy, na região da Essonne, ao sul de Paris, desde aquela época, o casal também residia. De fato, Geraldo deve ter gostado muito dessa região, pois por lá ficou por mais de 40 anos.

Entre todas as obras expostas em Etrechy, o jornal Le Republicain, da região Essonne, escolheu justamente o retrato do Geraldo Duarte, para ilustrar a matéria sobre nossa exposição.

Retrato de Geraldo Duarte, exposto na Prefeitura de Etrechy, Essonne, França.

De volta ao Brasil em 1986, a aquarela do retrato do Geraldo Duarte sempre era exposta quando me dedicava aos retratos nos shoppings, em início de carreira. Muitas pessoas me perguntavem quem era aquele sujeito parecido com o Raul Seixas, e eu contava sobre a amizade com o psiquiatra que virou artista.

De fato, Geraldo teve a coragem e a ousadia de deixar sua carreira como médico psiquiatra no Rio de Janeiro, e iniciou nova vida na França, onde viveu por mais de 40 anos, criando milhares de desenhos e pinturas, animando aulas de pinturas para jovens e encontrando-se com um outro tipo de "loucura", a de criar, expressar, colocar sua ebulição criativa sobre os suportes. Nunca deixou de "experimentar", mantendo uma postura jovem em sua criação, e não deixou de atender também, seus pacientes, continuou na escuta dos que com ele conviveram.

As pinturas do meu amigo Geraldo Duarte, assinadas pelo apelido Diko, possuem jovialidade, liberdade e força, soam muito contemporâneas, questionadoras. Com um pouco de conhecimento em história, psicologia e arte, podemos ler as imagens, seu grito, sua liberdade colorida e dolorida.

Com a partida de Geraldo, falecido no dia 21 de fevereiro, seu filho Pablo, herda uma enorme obra, que merece ser documentada, catalogada, exposta e conhecida pelo público. Sim, Pablo recebeu esse nome em homenagem à Picasso.

 

Essa terra é um lugar de criação intensa para alguns seres, e também um lugar de passagem. Alguns deixam um enorme acervo, um enorme legado.

Alguns são capazes de gravar uma grande amizade sobre as pedras da existência. Tive a grande felicidade de receber a visita do pai Geraldo e seu filho Pablo em meu atelier, quando vieram ao Brasil. Uma visita de um bom amigo, mesmo após a passagem do tempo, a imposição da distância e o império do silêncio, sempre alegra o coração e reforça a importância da amizade.

Amigos assim merecem ser lembrados, merecem nossa atenção e memória. Amigos na vida e na Arte. Amigos que escutam, que olham com carinho nossas dificuldades, embates e pequenezas, e fazem sobressair os talentos, a parte boa de cada um.

Vai com Deus, caro amigo Geraldo. Certamente Ele percebeu a sua caridade com aqueles que procuravam se expressar, se libertar através da Arte, assim como você certamente o fez, nesses delírios cromáticos de catarse e expiação das realidades humanas.

Prazer em conhecê-lo, caro Diko. A história da Arte, quem sabe, lhe fará justiça, encontrando para sua obra, um justo posto.

Conte comigo, caro Pablo, para fazer conhecer a obra do seu pai.

 

 

Sérgio Prata

 

 

 

 

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