Projeto de reconstrução e restauro da Igreja Notre Dame de Paris
O designer Alexandre Fantozzi, sócio da arquiteta Juliana Carvalho (AJ6), convidou os atelieres Prata e Stylia a integrar a equipe responsável pelo projeto brasileiro de reconstrução e restauro da Igreja Notre Dame de Paris.
Sérgio Prata, formado pela Ensb-A de Paris, frequentou a catedral entre 1981 e 1986, período em que residiu na capital francesa. Devoto de Notre Dame, especialista em técnicas de arte, com longa trajetória na arte sacra brasileira, sente-se honrado em ter sido convidado a integrar a equipe de Alexandre Fantozzi, que concorre no concurso internacional.
O artista sacro Sérgio Prata (colaborador técnico) e o designer Alexandre Fantozzi (criador do projeto) falam sobre o projeto de reconstrução para a Catedral Notre Dame de Paris, TV Canção Nova, no telejornal das 18h45, neste dia 23 de maio de 2019.
IMPORTANTE
Ao contrário da chamada da matéria, a informação correta, até o presente momento, é a seguinte: a ideia do concurso internacional foi lançada pelo primeiro ministro francês, mas o edital oficial ainda não foi oficialmente divulgado pelos responsáveis.
O que ocorre é que
alguns arquitetos, designers, artistas e criadores de vários países lançaram suas ideias na internet, e a midia internacional repercutiu e divulgou os projetos que mais interessaram ao público e repórteres.
O projeto de Alexandre Fantozzi, apoiado por nosso atelier (para o qual contribuiremos com informações técnicas do vitralismo e de composição de obra de arte), está entre os que mais agradaram a mídia internacional, o que já é um grande resultado.
Portanto, vale corrigir: Ainda
não existem finalistas em concurso oficial do governo francês, o que existe até o presente momento, são projetos que alcançaram maior visibilidade e a preferência do público e da mídia internacional, como podemos constatar no link que segue:
Sérgio Guimarães, do atelier Stylia, empresário e engenheiro de soldas também formado na França, ex-CEO de empresas multinacionais do ramo na europa, também aceitou fazer parte deste time.
Ao Alexandre Fantozzi e à todos de sua equipe, responsáveis pelo conceito deste projeto inovador, agradecemos pelo convite, e, desde já lhes desejamos muito sucesso, boa sorte.
Com profundo respeito ao sagrado e à arte de qualidade, confiamos que a providência Divina iluminará a importante decisão que os jurados tem pela frente, para que esta catedral tão amada por fiéis do mundo inteiro, volte a acolher as celebrações que sempre levaram luz e espiritualidade para a Europa.
O belo projeto do Fantozzi (AJ6), ao lado de alguns de seus concorrentes, ganhou as manchetes internacionais, destacando-se entre os muitos projetos enviados de diversos países. Se escolhido, trará grandes desafios de engenharia, arquitetura e de emprego de técnicas vítreas.
Profundos conhecimentos técnicos, a pesquisa esmerada e a inovação constantes são somente algumas das inúmeras características positivas da escola francesa dos ofícios de arte, com quem tanto aprendemos. Esta é a escola que reverenciamos e representamos, em pequena escala, divulgando conhecimentos de ofícios de arte, com satisfação, no Brasil.
Se a iconografia medieval é tão ampla na cultura francesa, desde os afrescos de Saint-Savin, e a arte dos séculos que nos precedem foi tão profícua, isto é resultado de um grande amor por tudo que é representação artística, neste povo dotado de sutileza no olhar e no fazer. Pude imergir em tantos locais sagrados e de arte, nos anos que passei no solo onde também pisaram e pregaram tantos santos católicos. Pude admirar afrescos, ícones, telas, murais, celebrações, missas, peregrinações.
Existem experiências de vida que são únicas, e algumas delas, tive na catedral, lembro-me de algumas, como quando, saindo de uma missa em Notre Dame, em dezembro de 1981, pela primeira vez vi a neve. Jovens estrangeiros e franceses, sem nada combinado, iniciaram uma gentil e gelada batalha de bolas de neve, alegres, surpresos, pela beleza branca e fria que brindava pela primeira vez o nosso inverno.
Outras experiências de fé, como as belas homilias do Cardeal Lustiger e os encontros de oração com Frère Roger Schultz de Taizé e seus irmãos, ao lado de milhares de jovens, marcaram para sempre minha vida de fé.
Assim se forma um devoto. Em oração, em silêncio. A fé chega por todos os sentidos, quando a liturgia conduz vers le haut, vers le Divin. A gente se apega às colunas da fé, ao ambiente, pega amor filial por Notre Dame representada na pequena estátua de pedra, e se deixa tocar na alma pelo ambiente etéreo da luz diagonal que passa pelos vitrais, ao belo som do órgão que toca durante as celebrações.
Voltando a falar do desafio que se apresenta, vale ressaltar que a indústria do vidro francesa, entre as mais antigas e melhores do mundo. Estabelecida na época de Colbert como Manufacture royale de glaces de miroirs (1665), permanece até nossos dias como uma das melhores e mais sofisticadas do mundo. A tradição de arte, o savoir-faire e a preservação do patrimônio são parte da vasta cultura francesa.
Os projetos modernos, inovadores, não são novidade, em Lutetia. Ao longo da história, não foram poucos também os que se opuseram às renovações que aconteceram entre a colina de Montmartre e de Santa Genoveva.
A reconstrução da flecha do telhado da catedral de Notre Dame, pelo inigualável arquiteto Viollet-le-Duc em 1859 e a pesquisa sobre sua existência anterior, documentada em iluminuras e obras de arte, já testemunham sobre os diversos colapsos deste elemento único da arquitetura.
Polêmica por décadas, foi também a construção do centro Georges Pompidou (Beaubourg), cuja arquitetura destoa totalmente em relação à arquitetura da renovação de Paris, feita por Haussmann. Não são poucos os que ainda ficam surpresos de encontrar suas formas industriais no meio da arquitetura antiga e clássica do Marais.
Ainda era estudante na Ensb-a de Paris, quando o projeto de construção da pirâmide do Louvre, hoje com mais de 30 anos, foi decidido e divulgado. Meu professor Bruno Foucart (histoire de l´art) foi um dos que se opôs à sua construção, com extenso artigo no jornal Le Monde, alegando que novamente, à exemplo do obelisco da place vendôme, a França se apropriava de elementos de outra cultura, para sua capital.
Nikki de Saint-Phale, é mais uma daqueles artistas que surpreenderam, instalando esculturas modernas, autômatos e jogos d´água em uma praça ao lado do beaubourg, destoando da arquitetura dos séculos precedentes, marcando a capital francesa.
O que se diz sobre tudo isto ? Alguns dizem que se é para existir, que exista em Paris, cidade que por muito tempo esteve na vanguarda da arte e da arquitetura.
Paris é uma cidade de renovação e inovação. Passou, ao longo de sua longa história, por incêndios, revoluções, saques, destruição, por guerras e ataques, sempre exigindo um esforço enorme de reconstrução.
Notre Dame, ao longo da história, foi este centro de luz, de espiritualidade, este ponto de olhar para o alto, de elevação do espírito gaulês, renascendo das cinzas, a cada ataque, incêndio ou destruição.
Assim o foi, e assim sempre será. Pois tem vocação para a luz. Pois aponta para Deus.
Sabendo que França dispõe de profissionais altamente capacitados e competentes, e que todo novo projeto gera polêmicas, aceitei com humildade integrar uma equipe brasileira, na intenção de colaborar com a arte deste projeto, cujas fotos acima são o preview conceitual inicial do designer Alexandre Fantozzi.
A continuidade, desenvolvimento e detalhamento deste projeto será em esforço
comum de criação, estabelecimento de projeto técnico, obra de reconstrução, que tomará dimensão histórica, caso seja o escolhido.
Visto que conheço bastante o país, por lá ter sido formado, e sei da enorme sofisticação dos ofícios de arte, arquitetura, ciências do vidro, engenharia, ensinados no hexágono, é uma honra, sempre, participar, tentando colaborar com os colegas brasileiros e franceses.
Pelo fato de ter estudado entre outras matérias, composição de obras (analyse d´une oeuvre) de arte no Louvre, e de ter frequentado a catedral, não somente como fiel cristão atuante, mas também por ter desenhado longamente dentro da catedral, como aluno de elementos de arquitetura (elements d´architecture), no período de escola nacional superior de belas artes, sinto-me apto a desenhar junto com a equipe brasileira, sempre visando a conexão com as melhores equipes de profissionais franceses.
No Brasil, tive a grande satisfação de ser o autor de centenas de metros quadrados de arte sacra, em cerca de 30 Igrejas. A vocação de artista sacro foi amplamente realizada, graças à Deus e à permissão de tantos padres e bispos brasileiros.
Como todo criador, todo artista, recebo uma bênção, a de antever o projeto, por inspiração. Assim ocorre neste projeto, já nasceu em mim a ideia, apesar de mim, por inspiração que percebo ser do alto. Na pequenez de quem tem fé e percebe a grandeza do nosso amoroso Criador ao longo da história humana, louvo à Deus, por sua luz, inspiração e proteção.
Jesus diz:
"Eu sou a videira, e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto, porque, sem mim, nada podeis fazer". (João 15,5).
Nous savons notre devoir. Unis, serons des compagnons, pour toujours.
A todos nossos irmãos de Notre Dame, boa sorte.
A tous nos frères de Notre Dame, bonne chance,
Ao ver cair a flecha de Notre Dame, muitos choraram por dentro, em diversos países do globo.
Que Deus nos permita sentir a alegria de rever nosso templo de fé reconstruído.
O atelier Prata divulga os conhecimentos da escola francesa de vitralismo no Brasil, para onde convergem artistas e estudantes de técnicas de vitral interessados em se aprimorar nesta bela arte milenar.
Professores:
Clotilde Gontel- École Nationale Supérieure d´Arts et Métiers de Paris -
Diploma de Ofício de Arte em vitral. Josette Troublard, prêmio de melhor pintora de vitrais da França em 1994.
Aurélie Haugeard recebeu o prêmio MAF (melhor aprendiz em vitral da França), recebendo a premiação no Senado Francês, em Paris em 2014.
Todos os vitralistas acima colaboraram com conhecimentos para a edição do curso online de vitralismo.