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Entrevista com Sérgio Prata sobre Cláudio Pastro - na íntegra.

Entrevista concedida por Sérgio Prata para a repórter Karla Maria, da revista O Mensageiro de Santo Antônio, em setembro de 2017.

Cláudio Pastro visto por um artista sacro.

1.  Como devo apresentá-lo?
Sérgio Prata é artista plástico e técnico de pinturas formado pela École Nationale Supérieure des Beaux Arts de Paris onde estudou por 5 anos, é um dos mais ativos artistas sacros da atualidade no Brasil. Estudou iconografia no atelier Saint Luc de Paris e no Monte Athos, na Grécia, viajou visitando museus e Igrejas por 15 países.
É autor de painéis murais em pintura, cerâmicas e vitrais em cerca de 30 igrejas, capelas e catedrais em diversos estados do Brasil. Autor de uma enciclopédia de técnicas de pintura, seu atelier é ponto de convergência para a formação de artistas, em diversos ofícios de arte.

2. Como avalia - caso esta seja a palavra correta - o trabalho que Claudio Pastro realizou no Santuário Nacional de Aparecida?

Sérgio: O trabalho de Cláudio Pastro em Aparecida foi o coroamento de uma longa carreira de dedicação à arte sacra com estilo contemporâneo. Apesar de Pastro não ter passado por uma longa formação acadêmica em Universidade de Belas Artes, graças à décadas de contínua dedicação, conseguiu firmar-se como um dos grandes expoentes da arte sacra das últimas décadas no Brasil, abrindo espaço, graças às suas publicações tratando sobre o espaço sacro e litúrgico (inspirado em publicações francesas) e ao seu estilo simples e acessível, para muitos outros jovens artistas sacros.
Para realizar suas obras, Pastro soube escolher e contratar outros prestadores de serviço em técnicas específicas, tanto no vitral quanto na pintura em cerâmica. As obras da basílica de Aparecida não teriam sido possíveis, sem o imenso trabalho realizado por Carlos Alfânio, de Campo Largo (PR), com quem também trabalhei na década de 90 do século passado.
Sinto-me de certa forma colaborador do sucesso da obra da Basílica, pois à pedido do reitor da Basílica, também propus um projeto para o grande espaço onde atualmente se encontra a imagem da padroeira, e sugeri afrescos ao longo da nave central em 2002.
O atual Arcebispo de Diamantina (MG), Dom Darci José Niccioli, propôs que eu fizesse uma parceria com Cláudio Pastro para a realização das obras sacras da Basílica Nacional de Aparecida, pois o artista relutava em assinar contrato para a realização dos painéis.
Ao saber da minha disposição e capacitação para realizar obras para a Basílica, Pastro decidiu-se e apressou-se em fechar contrato com a Basílica, resolvendo todos os impasses que dificultavam a assinatura do contrato, no curto espaço de tempo em que me ausentei do Brasil, para lecionar na Ensb-A de Paris, como professeur en stage, em 2002.
Quinze anos depois, estou realizando parte do projeto que eu tinha para a Basílica, em outro espaço, na Igreja Coração de Jesus, em São José dos Campos.


3.      O senhor se identifica com alguma característica do trabalho de seu colega? Qual?

Apesar da obra de Cláudio Pastro não ser um consenso, ser criticada por muitos colegas artistas sacros Brasileiros por sua constância e repetição estilística, e pela excessiva simplicidade que é facilmente plagiada por dezenas de admiradores, devemos ser justos, pois esta tem pontos positivos únicos. Seu ponto positivo é justamente a sintetização. O menos de Pastro, pode ser virtuoso, visto como mais, pois aborda o essencial.

Esta limpeza e pureza de estilo é perseguida por outros artistas maduros, pois facilita o trabalho, ao depurá-lo do que é excesso. O ponto positivo da obra de Pastro pode ser também aquele que o fragiliza, pois seu estilo não é único caminho possível para a arte sacra contemporânea. Não plagiar Pastro é colaborar para manter sua obra única. Copiar a obra de Pastro revela falta de capacidade criativa. Um artista se destaca exatamente por ser único, capaz de criar um estilo e uma proposta que renova, sem menosprezar a enorme herança.

Por isto, respeitar um artista como Pastro começa por não copiá-lo. Deixá-lo com a exclusividade de sua criação. Um novo artista não se cria e se constrói sob a sombra de outro.

Felizmente temos expoentes atuantes nas artes sacras que exercem uma obra de grande qualidade e identidade própria, que propõem estilos também contemporâneos, com grande maestria, como Sérgio Ceron e Rogério Baggio, Pedro Pinheiro e Lorenz Weillmar, para citar somente alguns daqueles que reconheço como nossos grandes artistas sacros em atividade.
Na escultura, temos grandes artistas sacros, como Carlos Calsavara, Ronaldo Nascimento e outros mineiros, que estão aumentando o patrimônio da arte sacra de qualidade fina, elevada. 

4.      Acredita que a arte sacra é valorizada pela Igreja Católica no Brasil?

Passamos por um momento delicado, quando o conhecimento em arte é deficiente, inclusive no currículo de formação dos novos padres. É vital que os artistas lecionem, ensinem, divulguem conhecimentos, pois os novos padres serão os fiéis depositários de uma herança muito valiosa, e devem ser iniciados, orientados, para saberem reconhecer e manter um valoroso patrimônio artístico.

Muitos dos que estudam arte tem pressa, e deixam-se levar por um imediatismo na formação. Querem atingir resultados em semanas de estudos.

É necessário entender que estudar arte é coisa para décadas de pesquisa.
Quanto a valorização, só é possível valorizar o que conhecemos, o que entendemos. A falta de valorização se deve justamente à falta de conhecimento e de iniciação em arte.

5.      Quais as dificuldades de ser um artista sacro no Brasil?
A valorização e o reconhecimento do trabalho de um artista sacro são um dos principais pontos. Para que um artista trabalhe é necessário que a Igreja ofereça condições mínimas materiais. Muitas vezes isto não quer dizer somente verba para a realização da obra, mas também tempo, respeito. Existem outros valores, além dos materiais, e isto é por vezes deixado de lado.
O Direito Canônico prevê que sejam empregados os melhores materiais para o espaço litúrgico, isto requer investimentos. Necessitamos de uma parceria e uma harmonia entre o contratante (Igreja) e o artista sacro.
Em um país passando por uma grande crise, poucos são os párocos que fazem um investimento justo em arte sacra.
Por vezes, podem gastar uma fortuna em uma estrutura metálica, mas não investem uma ínfima soma em arte sacra, por não conhecer os custos em materiais de qualidade, importados, e por não saber sobre o grande investimento pessoal investido pelo artista, na realização das obras.
De fato, um artista sacro que realiza seus próprios projetos tem que ser um verdadeiro atleta, subindo em andaimes, movimentando tábuas, expondo-se a materiais muitas vezes tóxicos, e técnicas longas e extenuantes.
Com saúde frágil, sobretudo nos últimos anos de sua vida, Cláudio Pastro atuou muitas vezes limitando-se a realizar seus projetos sobre papel, que foram destinados à atelieres especializados em técnicas diferentes.

Quando os religiosos perdem a noção da profundidade contida dentro da arte sacra, da teologia da imagem, da importância da atuação de um artista sacro como uma vocação dentro da Igreja, como defensor e propagador de nossa bela e ampla fé, passam a tratar a arte sacra como um simples segmento de “mercado”. Não é a toa que alguns artistas sacros com fé católica são grandes apologetas de nossa fé.
Não esperemos que um artista ateu ou com outras convicções e crenças defendam a fé católica. Delegar a função de artista sacro a artistas que não foram agraciados com a fé pode colocar em risco nosso patrimônio material e espiritual.

Aconselho que aqueles que não abraçaram inteiramente nossa fé que se abstenham de fazer arte sacra. Aqueles que procuram somente um bom mercado, não passam de mercadores do templo, gente que busca ganhos, e que não saberá fazer os sacrifícios necessários, carregar a parte da cruz necessária, muitas vezes em uma carreira que não é um caminho de rosas, que exige dedicação exclusiva.

Existe uma grande profundidade de conhecimentos em teologia da imagem, e a compreensão do amplo universo da arte sacra começa pela iconografia Bizantina, que resiste à passagem dos séculos, e nos traz grandes lições a ensinar, desde a conduta de hesicasmo, oração constante, respeito ao Sacro, ao Divino. A lição da humildade, de não culto ao ego do artista também é essencial.
O artista sacro é simplesmente uma ferramenta de Deus. Nada mais que isto, um serviçal temporal de uma obra divina, que deve buscar ser aquiropita.
Um artista sacro que cultua demasiadamente seu ego ainda tem muito a aprender, e deveria se isolar no Monte Athos com os monges iconógrafos, grandes artistas sacros de todos os tempos.

Simplificar, resumir, reduzir a arte sacra ao contemporâneo, é um grande risco. Um risco que Pastro decidiu correr, resumindo as lições que recebeu com Égon Sendler.
A fina peneira do tempo dirá a importância de Pastro, cujo nome está bem escrito na história da arte sacra contemporânea.

Somos herdeiros de 20 séculos de arte sacra cristã, com um grande legado preservado, entre ortodoxos e católicos. Para que este amplo conteúdo chegasse até nossos dias muitos monges passaram noites à luz de velas, pintando ícones, escrevendo textos, e foram obrigados a esconder obras sacras dos ataques dos vândalos e iconoclastas, bárbaros destruidores de imagens.

Pastro soube atuar na arte contemporânea, tornando-se um grande expoente, no entanto, a produção atual de arte sacra está muito saudável, e não termina em Cláudio Pastro.

Podemos dizer que Pastro foi um grande colaborador, divulgando, traduzindo conhecimentos em suas obras escritas, que possuem tanto valor quanto a obra pictórica, senão mais, em um país tão carente de bibliografia específica e especializada em espaço litúrgico.

A simplicidade é coisa para os grandes.

O apagamento do ego, é coisa para os artistas sacros sábios. Por esta razão, um artista sacro não deve ser cultuado nem adulado, como pessoa.

Ele nada mais é do que alguém que aponta, de forma temporal, em direção ao nosso Grande Pai Eterno.

Arte sacra é um caminho de conversão.

 

Sérgio Prata

 

 

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