MONTE ATHOS - AGIOS OROS Um relato do artista, em peregrinação
pelos mosteiros da Montanha Sagrada da Grécia.
Em 1981, quando recebi o prêmio de viagem à Paris, graças à um concurso nacional de esculturas em Areia, iniciei uma viagem por diversos países Europeus, passando pela Grécia. Estive em Patras, Corinto, completei meus 18 anos em Atenas, e segui para Paros, Antíparos, Kalamata, Mikonos, visitando o que de belo a Grécia tem a mostrar. Este foi o meu primeiro contato com o mundo Bizantino, com os belos afrescos e ícones das Igrejas Ortodoxas.
Graças à este primeiro contato, a arte mural, os afrescos, e os ícones passaram a fazer parte dos meus interesses artísticos.
Em 1983, quando estudava afrescos e técnicas de pintura na Beaux-Arts de Paris, um colega da comunidade
Assumpcionista de Cachan (onde residia) mostrou-me um livro sobre os monges iconógrafos do
Monte Athos, e fiquei entusiasmado com os atelieres situados sobre os rochedos, com janelas sobre o
mar Egeu, o ambiente de trabalho e oração dos monges
iconógrafos, produzindo lindos ícones dentro da tradição Bizantina.
Desde então, sonhava em conhecer estes mosteiros de arquitetura
imponente, cheios de arte Bizantina... Após uma longa espera e muitos estudos,
finalmente (em 2008) pude
realizar esta peregrinação de fé e de arte.
Adquirindo livros desde a década de 80, e visitando alguns atelieres e uma loja de iconografia na França, pude me iniciar um pouco nesta arte sacra tradicional, até que, em 2002, ao estudar iconografia no atelier Saint-Luc de Paris, encontrei finalmente uma grande mestre: Helène Iankoff, iconógrafa, teóloga, conselheira nacional da Igreja Ortodoxa Francesa, que havia vivido por anos na Grécia, onde estudou iconografia tradicional. Nesta oportunidade, tive a chance de saber um pouco mais sobre os principais centros da iconografia Bizantina da Grécia.
Pe. Yacovos (iconógrafo da Romênia), Sérgio Prata e monge Modestus (pintor da Inglaterra), no Mosteiro Dionysiu, do Monte Athos, Grécia. Julho de 2008.
Vídeo feito durante a peregrinação no Monte Athos, 2008.
Durante minha visita aos mosteiros do Monte Athos, recebi um convite para permanecer na montanha sagrada, na qualidade de pintor de arte sacra e restaurador, porém meus compromissos me fizeram voltar ao Brasil, onde partilho um pouco desta experiência de peregrinação, fé e arte sacra, com os visitantes deste site.
Fiz cerca de 3000 fotos, pesquisei e estudei iconografia no berço da Ortodoxia, para ampliar o conteúdo do curso on-line de iconografia.
Na foto ao lado, participava da restauração de uma cúpula pintada por Iorgos, o Cretense, no Monastério de Dionysiu, Monte Athos.
Situada no norte da Grécia, na fértil península calcídica, a República Monástica do Monte Athos possui 20 grandes mosteiros, doze skitis (pequenos e grandes mosteiros), e mais de 250 kélias (pequenas comunidades monásticas menores, autônomas) onde residem monges que adotam o hesicasmo (quietude e apaziguamento das paixões) e a oração como rotina diária.
Conta a história que Nossa Senhora, chamada pelos ortodoxos de a “Mãe de Deus”, em viagem de barco com São Lucas para a ilha de Chipre, teria desembarcado na península.
Surpreendida pela beleza e imponência da natureza da região e, inconformada com o ateísmo de sua população local, teria pedido à Deus, em oração, que lhe oferecesse esta terra, para que ali, mais tarde se realizasse o que hoje é conhecido como o “Jardim da Virgem”.
A Montanha sagrada, única República Monástica da terra, é hoje habitada por cerca de 3.000 monges gregos, eslavos e de países do oeste europeu. Há mais de um milênio, o acesso das mulheres é interditado pelos monges.
A maneira de demonstrar o amor e respeito às mulheres é feita através da grande devoção a Nossa Senhora, padroeira e protetora de todos os mosteiros Athonitas, onde são preservadas as raízes da civilização cristã.
Situada no norte da Grécia, na fértil península calcídica, a República Monástica do Monte Athos possui 20 grandes mosteiros, doze skitis (pequenos e grandes mosteiros), e mais de 250 kélias (pequenas comunidades monásticas menores, autônomas) onde residem monges que adotam o hesicasmo (quietude e apaziguamento das paixões) e a oração como rotina diária.
Estima-se que o território abrigue cerca de 20.000 ícones (a maior coleção de ícones do mundo).
Na peregrinação pela montanha sagrada, passei por Daphni, Karyes, Monastério Stavronikita, Monastério Pantocrator, Skiti Bourazeri, Monastério Magistri Lavra, Monastério Dionysiu, Monastério Simonos Petras e Monastério Panteleimon.
Na península, existem centenas de afrescos, entre os quais os afrescos de Manuel Panselinos na Igreja de Protaton, na capital Karyes, e dos cretenses Theófano e Georgios.
Entre os mais célebres iconógrafos da atualidade no Monte Athos, pude encontrar o Higoumène (Padre prior) Arsenius (do skiti Bourazeri), Padres Yacovos e Nicolau (do Mosteiro Dionysius). Outros renomados iconógrafos como o Padre Lucas (Xenophontos) e os iconógrafos do skiti Santa Ana, visitarei, se Deus quiser, em uma próxima oportunidade.
Algumas escolas e tendências de iconografia lá se estabeleceram, durante os séculos de vida monástica, sendo as escolas mais conhecidas a Macedônica e a Cretense.
Ícone pintado pelo Higoumène Arsenius, do Skiti Bourazeri.
Dionísio de Fourna, em seu Manual de Iconografia, nos diz:
- "Todo iconógrafo que quer desenvolver o seu talento deve, antes de mais nada, tornar-se um "orante" e só depois disto poderá realizar os seu trabalho, tendo o cuidado de exercitar-se muito nas proporções e características das figuras, reproduzindo-as".
Monge Yacovos pintando um ícone, no mosteiro Dyonisius.
O verdadeiro iconógrafo não se permite interpretar. Ao contrário, limita-se a transmitir uma tradição, uma herança espiritual, através da cópia de uma imagem.
Aqueles que se permitem assinar um ícone estão equivocados e demonstram desconhecer a tradição iconográfica. O ícone é uma imagem sacra, que aplica teologia nas cores, formas, símbolos e perspectiva.
Relíquias tais como a mão de São Lucas e de Maria Madalena, são conservadas e reverenciadas pelos monges e por alguns peregrinos. Diversas relíquias são mantidas de forma muito discreta, e só são reveladas aos visitantes, após discernimento dos monges.
Alessandro Sabella entrevista Sérgio Prata, sobre sua viagem ao Monte Athos, Grécia.
O Monte Athos é uma das mais importantes fontes de pesquisa sobre história da pintura Bizantina e pós-Bizantina, onde os peregrinos e especialistas podem aprender também sobre diversas artes ligadas à liturgia.
Antes de visitar a República Monástica, é necessário obter uma autorização especial, chamada de Diamonitiria, fazendo a demanda em seu país de origem.