“Um
certo dia alguém me falou que eu tinha um desenho espagueto-mórfico"...
Mr. Debord, Professor de
Morfologia Humana, École Nationale Supérieure des Beaux Arts (Ensb-A) de Paris, 1984.
Sérgio Prata foi aluno de Mr. Debord e seus assistentes, na Ensb-A de Paris, entre 1981 e 1986. Desenhou modelos ao vivo nos atelieres de Mme Poncelet, na mesma escola, e no curso noturno oferecido pela Prefeitura de Paris, com Mr. Raveau. Leciona Anatomia artística e desenho da morfologia humana, em cursos promovidos por atelieres e museus, no Brasil.
O livro "Anatomia Artística" foi lançado em 2000, com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Município de Curitiba (PR), declarado Capital Cultural das Américas em 2003.
Durante a elaboração deste livro, o artista trabalhou em parceria com os anatomistas Dr. Ercílio Benedito (orientação), Dra. Denise Yasbek (orientação e correção anatômica), entrevistou o Dr. Liberato Diddio, reconhecido como um dois mais consagrados anatomistas do Brasil.
Ao mesmo tempo, desenhou, no laboratório de anatomia da USF, as peças anatômicas que ilustraram o livro de sua autoria.
Investimento: R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais).
Últimos exemplares.
Entrevista sobre desenho da figura humana, com Claudete Troiano
Trecho da introdução do livro Anatomia Artística:
A anatomia humana apresenta variações entre indivíduos, segundo as idades, raças, sexo e biótipo. É um vasto universo a ser descoberto pelo artista. Podemos esquecer o nome de cada músculo ou região óssea, mas não devemos esquecer a realidade física do corpo inerte ou em movimento, para representá-lo artisticamente.
A anatomia artística é uma das bases do “tripé do conhecimento artístico figurativo” ou seja, é um dos conhecimentos básicos na formação de um artista figurativo, ao lado do estudo das técnicas e da composição. O pintor que não deseja realizar obras figurativas, pode escolher as texturas, a abstração, as cores, as paisagens, como tripé para manter sua obra em pé. Mas deverá, assim mesmo, estudar profundamente o tema que pretende representar, para alcançar a maestria.
Pernas - vista posterior
Observando a evolução da história da arte, compreendemos que não existe uma linha progressiva e contínua, onde os artistas teriam evoluído na compreensão e representação da anatomia (e também em outras matérias, como perspectiva e técnica).
Ocorreram oscilações em épocas diversas, quando os artistas tiveram maior ou menor interesse na representação anatômica e, suponho, conhecimento desta matéria.
Para ilustrar este fato, vale lembrar que a estética Bizantina, onde a realidade anatômica é deixada em segundo plano, é posterior à Arte Grega e Romana, que atingiu altos níveis de compreensão e representação do corpo humano, representados nos baixo-relevos e esculturas.
A anatomia acompanha o homem há milhares de anos; existem descrições anatômicas em textos antigos, como no evangelho de São Lucas da Bíblia, e na Ilíada de Homero. Dante Alighieri descreve a “anatomia do diabo” na Divina Comédia, e Cervantes utiliza termos anatômicos em Dom Quixote. A anatomia acompanha a civilização, desenvolvendo-se ao lado do conhecimento do corpo humano. A Medicina surge no Egito, no período 2700 - 2200 a.C. através dos antigos médicos e cirurgiões dos Faraós, mesclada com a magia, ocultismo e crenças em divindades.
Os corpos dos faraós eram embalsamados e suas vísceras guardadas ao lado de seu sarcófago, para a vida futura.
Herófilo, 335 a.c -280 a.C., médico e anatomista grego da região onde se situa atualmente a Turquia, é considerado por muitos, como sendo o “Pai” da Anatomia. Seus escritos foram traduzidos por Galeno, porém, boa parte deles se perdeu na destruição da biblioteca de Alexandria.
Galeno, por cerca de 201-131 a.C., realizou estudos a partir de dissecações de animais e deixou uma das primeiras obras de estudo de Anatomia e Fisiologia, utilizada durante centenas de anos. Foi considerado como o “Príncipe” da Anatomia, e deixou muitos seguidores.
A dissecação humana era um tabu nas sociedades antigas e medievais até que, no início do século XV, algumas universidades Italianas permitiram que seus médicos de maior credibilidade e pessoas imunes ao comentários gerais, promovessem dissecações públicas de criminosos executados, atraindo grande público.
Durante o Renascimento, “Artista” era uma designação atribuída somente aos seres dotados não somente de grande adestramento da mão e conhecimentos dos materiais artísticos mas, também, de conhecimentos em matérias diversas. Para se transformar uma criança talentosa em um grande artista, era necessário muito estudo, adestramento da mão, do olhar e do intelecto, trabalho e sensibilidade.
Leonardo da Vinci, nascido em 15 de abril de 1452, em Vinci, Itália, é quem melhor se enquadra na definição renascentista de “Artista”, por ter sido mestre em matérias tão diversas quanto matemática, botânica, arquitetura, física, geometria, aerodinâmica, música, pintura, desenho, anatomia e outras. Realizou estudos anatômicos, unificando o conhecimento anatômico obtido através da dissecação ao conhecimento da representação artística, focalizando os detalhes da forma externa do corpo humano. Em 1495, abandonou seus estudos anatômicos, para retomá-los em 1508-10, iniciando uma nova metodologia de investigação, registrando o que via, e depois, a função da estrutura, observada através da dissecação.
Foi o primeiro a perceber que os órgãos internos deveriam ter uma função. Da Vinci tinha a intenção de publicar um tratado científico de anatomia e, para isso, executou 600 folhas contendo milhares de desenhos.
Durante sua empreitada, foi acusado de sacrilégio, seqüestro e dissecação ilegal de cadáveres, por um alemão, provavelmente enciumado. Foi impedido de praticar atividades anatômicas pelo Papa Leo X.
Impossibilitado de continuar a trabalhar na Itália, mudou-se para a sua última residência, o Clos-Luce, em Blois (região do Rio Loire), vivendo sob os auspícios de François I, na França.
Morreu quatro anos mais tarde e, somente muitos anos após, seus desenhos anatômicos tornaram-se conhecidos, colaborando com o avanço da Medicina e a Arte.
Por essa razão, até o início do século XVI, ainda não existia uma ciência anatômica claramente definida.