O iconoclasmo (do grego εικών - eikon "ícone" e κλαστειν - klastein "quebrar") quer dizer stricto sensu a destruição de representações, a guerra contra as
imagens, seja ela decorrente de
razões religiosas ou profanas.
O iconoclasmo religioso rejeita as representações do divino, em particular, dos ícones.
A acusação principal dos iconoclastas (os que aderem ao iconoclasmo) é a
da idolatria. Crêem que os iconógrafos são criadores de ídolos.
Estátuas da catedral São Martinho em
Utrecht, atacadas durante o iconoclasmo da Reforma Protestante, no século XVI.
A questão teológica da representação do divino está presente nas três religiões monoteístas:
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Todas as três atribuem a
característica de transcendência à divindade que está situada além da humanidade tal qual é representada.
A única representação comum entre as três religiões monoteístas é a dos anjos.
No Judaísmo assim como no Cristianismo, a interdição de representar a figura divina
é inspirada no segundo dos dez mandamentos, descrito no livro de Êxodo,
capítulo 20, versículos 4 a 6:
" Não farás imagem em escultura, nem representação de coisas que estão
no alto dos céus, que estão sobre a terra, ou abaixo dela, nas águas.
Não te prosternarás diante delas, e não as servirás, pois Eu, o Eterno,
teu Deus, sou um Deus ciumento, que pune a iniqüidade...."
No entanto, logo nos primeiros séculos do Cristianismo,
artistas produzem imagens, como as pinturas das catacumbas, e mais
tarde, os ícones. Em defesa da iconografia, vale que o iconógrafo não
produz ídolos, mas ícones. A teologia
dos ícones tem por objetivo trazer explicações à estes paradoxos. Aqueles que, por radicalismo ou por
crença religiosa são levados a destruir ou profanar imagens (alegando
que tais imagens são ídolos), recusando aceitar a teologia e a
evangelização contida nestas imagens, são chamados de iconoclastas.
No Cristianismo, o iconoclasmo (também chamado de querela
das imagens) foi um movimento hostil ao culto dos ícones e das imagens santas, veneradas no Império
Romano do Oriente. Manifestou-se
no século VIII e IX, através da larga destruição de iconostases e de
seus adoradores, chamados de iconófilos.
O PRIMEIRO ICONOCLASMO (730–787) No ano de 730 d.C. o imperador Leão III, o Isaurense
(imperador de 717 a 741) proibiu o uso de ícones de Cristo, da Virgem
Maria e dos Santos, e ordenou sua destruição. A controvérsia iconoclasta
nasceu quando numerosos cristãos, vivendo ou não no império Romano,
recusaram-se a destruir seus ícones e iconostases.
São João Damasceno foi um dos chefes deste movimento de resistência.
A posição do imperador Leão III foi reforçada pelo sucesso militar, a
tomada de Constantinopla em 717-718 d.C., com o fim dos pagamentos dos
tributos aos árabes. Seu filho, Constantino V (imperador de 741 a 775)
também teve sucessos militares, o que reforçou a posição dos iconófilos.
O segundo Concílio de Nicéia, em 787, autorizou novamente o culto das
imagens, interditando, no entanto, severamente seu comércio. A razão
doutrinal se apóia no seguinte argumento:
"Se o Cristo se encarnou, é então possível representar fisicamente o
filho de Deus, e pintar os Santos".
O SEGUNDO ICONOCLASMO (813 – 843)
Leão V, imperador entre 813 e 820, provocou um segundo movimento
iconoclasta desde o começo de seu império, movimento mais rigoroso que o
primeiro. Sua política teve continuidade nos reinados de Miguel II e de
Teófilo. A viúva deste último, na qualidade de regente do seu filho
menor (Miguel III), proclamou a restauração do iconismo no ano de 843
d.C.
Os imperadores tentaram impor um símbolo único para a adoração, o Crisma,
que lhes era pessoal. O iconoclasmo dos imperadores coincidiu com os
momentos de graves crises exteriores, podemos interpretar o iconoclasmo
como uma tentativa de reunir os Cristão dos oriente em torno do
imperador. Quando a ameaça externa cessa, cessa o iconoclasmo. Após destruir muitos ícones no século VIII, Carlos Magno toma partido contra o iconoclasmo, após o
concílio de Frankfurt.
Desde o Egito, na época dos
Faraós, sabe-se que o iconoclasmo é também uma questão
de guerra entre egos. As estátuas de Hatchepsout foram destruídas pelo seu sucessor Thoutmôsis III.
O ICONOCLASMO RECENTE NO ISLAMISMO
No mundo do Islã,
a interdição da representação se opõe à idolatria, em
particular ao culto dos ídolos em pedras, encontrados
por arqueólogos, que testam uma cultura nômade de povos
que viviam do pastoreio e criação. A interdição de toda
representação se estende até a pessoa do Profeta.
São conhecidos os episódios mais
recentes do iconoclasmo, através da destruição de
estátuas que antecederam o surgimento do Islã,
conservadas em um museu de Caboul, promovida pelos
Talibãs no Afeganistão. Foram amplamente divulgadas na
mídia a destruição das estátuas gigantes de Buddha em Bamiyan.
NO IMPÉRIO BIZANTINO
A crise iconoclasta aconteceu entre os reinados de Leão III (717-741) e
Teófilo (829-842), imperadores Bizantinos. A destruição, por vezes
violenta, de imagens representando a divindade é uma reação ao grande
desenvolvimento do culto dos ícones, que causou grande animosidade.
Período frequentemente descrito como pobre em produção artística, o
período iconoclasta não arrasou com todas as artes: a arte dos tecidos e
da ourivesaria puderam seguir criando, porém a arquitetura se estagnou.
A polêmica em torno da questão que indaga se "temos o direito de representar o
mundo espiritual, ou isto é criar ídolos e idolatria... " é histórica,
atravessa séculos, e possui argumentos fortes e divergentes, prós e contra.
Os iconoclastas mais integralistas e radicais crêem que ao representarmos o sacro
estamos criando objetos de idolatria. Este é o argumento mais forte
do iconoclasmo.
ARGUMENTOS EM DEFESA DA ICONOGRAFIA
Em resposta à este argumento, diz um manual de iconografia:
-" Um ícone se venera, não se adora. Só se
adora a Deus. Veneram-se a Santa Cruz, os Santos Evangelhos e os
Ícones."
Entende-se por veneração: considerar que uma coisa é digna de
respeito pelo que representa ou recorda.
A origem de toda arte sacra cristã acontece através da iconografia
tradicional, desde os primeiros séculos da cristandade.
Se todos fossem iconoclastas, crendo que pintar o mundo divino fosse criar um objeto de
adoração, a maior parte das obras primas da história da arte não
teriam chegado até nós.
O iconoclasmo foi
responsável pela destruição de inúmeras obras de arte sacra, em
diversos períodos da história.
Em nome deste radicalismo ideológico, no
fim do século VIII, a crença comum ao mundo judeu e muçulmano, que preconiza a interdição
da representação humana e divina, colaborou na perseguição de muitos
iconógrafos, que foram martirizados cruelmente. Alguns deles se tornaram
Santos da Igreja Ortodoxa.
Em memória destes mártires, que auxiliaram a trazer até nós as imagens
sacras, pagando por isto com suas próprias vidas, e por esta razão um verdadeiro iconógrafo
contemporâneo
trabalha em espírito de oração, com profundo respeito pelas figuras
representadas.
Muitas obras sacras foram destruídas, em diversos
países, ocasionando uma perda em vidas, em arte e em espiritualidade.
As conquistas,
dissensões, cismas e revoluções, sempre impondo um novo domínio e
cultura, resultaram, por muitas vezes, na destruição de ícones e
afrescos. A revolução francesa no séc. XVIII também destruiu boa
parte dos afrescos e do patrimônio artístico das igrejas românicas
francesas, que possuíam obras de arte na tradição oriental.
Não é difícil encontrar vestígios de afrescos martelados, destruídos
durante a revolução, em várias regiões da França.
Pensadores, teólogos e filósofos contemporâneos discorrem sobre a Cristianofobia, uma variante de iconoclasmo, que atinge a cultura judaico-cristã.
A distorção de sentido na veiculação das imagens sacras, a tentativa de destruição, travestida pela palavra "desconstrução" (filosofia da desconstrução) da presença do sagrado em nossa contemporaneidade, por variadas razões de vigilância estética, estratégia política e ideologias, também pode ser interpretada como uma forma de iconoclasmo, ou seja, uma agressão ao sagrado.
Esta destruição do sagrado é presença constante em movimentos revolucionários, que desvalorizam o espiritual, negam a presença de Deus, tratam a religião como se fosse uma fuga irreal, uma conduta de uma burguesia opressora, um ópio do povo, e incorrem sempre no mesmo erro, ao reduzir o homem e impedí-lo de ter acesso à conduta civilizada que é resultado de sua espiritualização, acabam por excluir a civilização ela mesma, implantando condutas de iniquidade, desrespeito à vida e das mais variadas barbáries.
A imagem iconográfica sagrada, para o iconógrafo, deve ser divulgada, reverenciada, adorada e permanecer nos lares dos que possuem fé em Cristo.
Saiba mais sobre iconografia.
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