Os personagens desta exposição estão frequentemente apertados dentro do espaço delimitado pelas telas. Recém formado como afresquista e muralista pela Ensb-A de Paris, o artista estava preparado para atuar na pintura monumental, para trabalhar em grandes espaços. As telas desta exposição são as primeiras de grande formato.
Pescador, coleção particular Eugênio Mussak, 1987.
O pássaro dourado, intitulado pelo
artista "pássaro da liberdade" foi pintado com aglutinante
orgânico e glitter, recebeu uma camada prematura de verniz.
Durante a exposição da obra, no Teatro Guaíra, em Curitiba, o pássaro da liberdade
começou a apresentar putrefação, por esta questão técnica. Coincidentemente, no mesmo período, aconteceu o acidente com o Césio 137, em Goiânia.
Os personagens das telas deste período parecem,
frequentemente, apertados dentro do espaço. Formado como afresquista pela
Ensb-A de Paris, o artista estava preparado para atuar na pintura
monumental, porém em começo de carreira, dedicava-se ao desenho de
retratos e à pintura de telas em formatos menores do que desejava realizar.
Os personagens querendo sair da tela, uma insurreição da pintura contra o
tamanho do chassis, fazem alusão ao indivíduo, que se sentia
"emoldurado" pelos limites impostos pela sociedade.
"Lavrador"
Ao mesmo tempo em que o artista expunha seu quadro do Lavrador, no Teatro Guaíra, Chico Anísio fez uma crônica que
vai de encontro ao tema deste quadro, em seu quadro semanal no programa
Fantástico, citando como a vontade de todos seria que o trabalho da terra tem a ver com fecundação.
Adquirido para a coleção do Banco Banestado, em 1987.
Sonho
Acrílico e encáustica s/ tela.
1,60 X 1,30 m - 1992.
Coleção Veille, Curitiba (PR).
Cristo 1,60 X 1,30 m, acrílico sobre tela. 1990 Coleção Kffuri, Curitiba (PR).
Este Cristo tem os braços em forma de suástica, alusão do artista ao sofrimento de alguns Cristãos e ao silêncio de outros, durante o holocausto.
Violinista
Coleção família Veille 1990.
Enquanto o Violonista toca seu instrumento, toca os seios de sua musa, a
música.
Em começo de carreira, dedicava-se ao desenho de retratos e à pintura de telas em formatos menores do que desejava realizar. Os personagens querendo sair da tela, uma insurreição da pintura contra o tamanho do chassis, fazem alusão ao sentimento do artista, em começo de carreira, que se sentia "emoldurado" pelos limites impostos pela sociedade.
Pescadores (Tríptico). Acrílico e encáustica s/ tela. 1,95 X 3,23 m 1985/90. Coleção família Ledain Simic. Montreal,
Canadá.
O tema desta obra é a busca pela subsistência. O constante trabalho dos
pescadores, puxando a rede recebem, no personagem da esquerda, um touro.
É uma referência ao homem domando à si próprio. No personagem da
direita, um burrinho corre atrás da cenoura, apresentada pelo próprio
pescador. O estudo da tela do Pescadores foi iniciado no atelier de Auvers Saint-Georges, na região da Essonne, França, durante o
período em que o artista ainda era estudante, na Beaux Arts de Paris.
Orientado por Pierre Alechinsky (grupo Cobra), Sérgio trabalhou os estudos
desta
tela na França, e realizou a obra definitiva em Curitiba, enquanto retratava a sociedade Curitibana, no Shopping
Mueller, no início de sua carreira.
Coincidentemente, a última tela pintada por Teodoro de Bona, no mesmo
período, tinha o mesmo tema.
O jogador
Coleção particular.
Jaime Lerner (na época, Prefeito
de Curitiba), a escritora
Anita Zippin e Sérgio Prata, no Teatro Guaíra, diante de tríptico "Pescadores".
Narciso
Acrílico e encáustica a frio s/ tela. 1,95 X 1,30 m - 1990. Coleção particular
da família dos pilotos de automobilismo Paulo de Tarso e Tarso Marques, Curitiba (PR).
Obra editada em Montreal, Canadá, na Agend´Art internationalle de 1998.
O
segredo da vida não é deixar de lado o narcisismo, e olhar o outro? Enquanto Narciso se olha, se esvazia, num mar de ilusões.
Tendo consciência da beleza do outro, por vezes, tomamos consciência de nossa falta de beleza, corporal ou espiritual.
O personagem oriental à direita é uma alusão ao poeta Paulo Leminsky,
que o artista conheceu em Curitiba, logo que chegou ao Brasil.
A tela Narciso, no apartamento da familia Marques, em Curitiba PR.
Pietá.
Acrílico e douração s/ tela. 1990. Obra restaurada pelo próprio
autor. Coleção
do artista.
Nesse Véu comigo
logo
Técnica mista s/ tela.
1,95 X 1,45 m - 1991.
Coleção Max Veille, Curitiba (PR)
Netuno
c.m.c. sobre tela
80 X 100 cm, 1992.
Coleção Dr. Nilceo Benedito.
"Sérgio Prata, um artista em sintonia com a realidade."
texto de MARLENE DE ALMEIDA.
A arte pode não ser capaz de mudar o mundo e nem acho que essa seja a sua função. Se assim fosse o alerta de "Guernica" de Picasso teria evitado algumas catástrofes. Isso não significa que a obra de alguns artistas consiga se desprender da realidade. Ao contrário, o verdadeiro artista é um ser em estado de alerta, é alguém cuja vida interior em constante ebulição permite captar bons e maus momentos. A pintura de Sérgio Prata não dispensa essa possibilidade. Como parte integrante de um contexto muitas vezes conturbado, o artista se revela passível de envolvimentos. Ao jogar esses questionamentos para a tela cria personagens impregnadas de emoção. Algumas vezes denunciam um momento social crítico, outras um estado interior seu.
Essas questões se tornam evidentes tanto na expressão do homem simples, seja o lavrador ou o pescador, como nas personagens mitológicas. É o caso de Ícaro tentando sair das sombras com seu ar desesperado lutando para abrir novamente suas asas e renascer para o sol.
Uma analogia a um momento também do artista quando, após um tempo sem criar, sente a necessidade do retorno à pintura.
O que caracteriza a obra de Sérgio Prata é a força de suas personagens quase extrapolando o espaço da tela. Apresentam uma morfologia que é na verdade fruto de estudos de anatomia feitos na França. A partir daí recria figuras grandes e vigorosas que refletem, na visão do artista, a estética do povo latino americano.
Pelo tamanho se mostram comprimidas dentro do espaço evidenciando quase uma revolta da pintura contra a moldura ou do indivíduo contra a sociedade, uma vez que a moldura delimita a pintura e o indivíduo é limitado pelo contexto em que vive. Esse processo foi resultado do conflito que enfrenta ao voltar para o Brasil após alguns anos de experiências vivendo na França. Sente o choque cultural, alo um tanto anacrônico. Seu horizonte agora muito mais amplo acaba deparando com tantas restrições. A sensação de enxergar muito além e não conseguir passar isso significava a angústia de ter voltado às origens e não conseguir aterrisar em seu próprio país.
Transportar para a tela questionamentos interiores com tanta carga emocional significou para Sérgio Prata um momento de buscas e descobertas. Quando percebe que só estar ligado a tais questionamentos poderia estar produzindo uma obra temporal, decide virar a página.
Não perde, no entanto, a coerência e o vigor. Sente uma espiritualidade nova, alcança uma serenidade, algo que independe da vontade do artista e que, portanto, não deve reprimir, simplesmente deixa fluir. A partir de então não permite um trabalho cerebral o tempo todo. Acredita numa espiritualidade mais ecumênica. Não aceita proselitismos nem verdades determinadas. Para Sérgio Prata a dúvida é salutar e o excesso de convicção é atroz. - “Estar aberto a tudo o que acontece, poder captar momentos e transporta-los para o suporte é ótimo.” Para ele, a verdadeira arte é quase que um sintoma, é o testemunho de uma época, de uma cultura. É o canal que o artista utiliza para expressar a realidade e os anseios do ser humano.
-”Isso é pensar como um expressionista”.
São essas obras que passam um sentimento puro, que têm toda uma vibração de vida e que resume o mundo. Essa é a única arte que ultrapassa o tempo e que será infinitamente admirada.
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