-"Em 1982, quando vivia na comunidade Cristã Assuncionista de Cachan, 4 km ao sul de Paris, comecei a me interessar por iconografia. Na Rua Bonaparte, que dá acesso à escola de Belas Artes, onde eu estudava, existe até hoje uma loja de iconografia, e eu, que sempre vinha de Saint-Germain-des-Près, passava diariamente diante dos belos ícones expostos.
De vez em quando entrava na loja e batia um papo com a simpática senhora, proprietária da loja. Lia bons livros sobre iconografia, visitava atelieres e após muitos anos de flerte com esta arte, finalmente, em 2002, tive a chance de fazer um curso com a iconógrafa Hélène Iankoff, no atelier Saint Luc de Paris.
Em 2003, Hélène esteve no Brasil, atendendo ao meu convite, e organizamos exposições e um curso, que traduzí, no atelier Agios Mandylion, de São Paulo.
Em 2006, estive novamente em Paris, visitando diversos atelieres de iconografia, e pude visitar minha professora Hélène Iankoff, iconógrafa de renome internacional.
Hélène possuía a maior Biblioteca de iconografia da França, e o único atelier com as portas abertas ao público na capital Francesa, este atelier mantém suas portas abertas, com um discípulo dando continuidade ao ensino desta que é a arte sacra mais nobre e tradicional da história da Cristandade.
Hélène Iankoff fala sobre cores na iconografia.
Curso de iconografia organizado e traduzido pelo artista
em 2003, para os alunos do atelier Agios Mandylion, onde lecionam Pe. Marcelo Bertani e Irmã Cida Labinas, co-autores do curso on-line de iconografia, em São Paulo.
"Hélène foi uma iconógrafa, teóloga conselheira da Igreja Ortodoxa Francesa, que aconselhou-me durante alguns de meus trabalhos, o que, para qualquer artista sacro, é um grande privilégio. Seu legado e influência dentro da Igreja ortodoxa me acompanhou, facilitando inclusive meu ingresso nos mosteiros do Monte Athos, na Grécia, anos após."
Sérgio Prata.
Conheça uma viagem do artista, em pesquisa de iconografia na Grécia, na página do Monte Athos.
Vernissage da exposição de Ícones de Sérgio Prata.
O ícone tem como finalidade nos auxiliar na oração,
entendendo-se por oração o relacionamento de uma pessoa com Deus. Orar é falar com Deus como se fala com um amigo ou pessoa que amamos.
Conta um Frei de Taizé: um jovem me disse
após contemplar longamente um ícone na Igreja desta Comunidade:
-“Tenho a impressão de que estou olhando para alguém que me entende”.
Ícone
de Nossa Senhora da Ternura, Galeria Tretiakov, Moscou.
Esta
proximidade pacífica e íntima entre o homem e Deus é obtida através de uma imagem
espiritual, cuja aparente passividade nos lembra de que é necessário
apaziguar os próprios sentimentos, pois somente na calma e na tranqüilidade
podemos orar, ouvir a voz de Deus e a voz dos outros.
Note que a luz de um ícone não vem de um ponto
fixo, do sol ou da lua. Quando o Cristo é representado, ele simboliza a
própria luz, como podemos observar no Ícone da Transfiguração.
Na foto acima, ícone da
Transfiguração do Cristo, tendo Elias e Moisés ao seu lado, segundo
relata o Novo testamento.
Atribuída a Theófano o Grego (1403), veio da Catedral de
Pereslav-Zalesski, e está na Galeria Tretiakov de Moscou, Rússia.
Inspirado nas
diversas variantes do ícone tradicional e histórico da Transfiguração, e
adicionando elementos de Brasilidade (plantas como os guaimbés e copos
de leite), e de latino-americanismo (personagens com mãos e pés fortes -
ligação com a natureza) , pintei um painel de 72 metros quadrados,
na Capela Nossa Senhora do amor, da
Univap.
O respeito à história e a tradição na representação sacra está presente,
renovado pelos indícios de contemporaneidade.
Ofuscados pelo brilho do Cristo transfigurado, os apóstolos se protegem
da luz, sob o Monte Tabor.
A ICONOGRAFIA DO ATELIER
PRATA
A pintura de um ícone começa com a escolha da madeira e a preparação do Levkas, ou
seja, a preparação do fundo do suporte, feita com cola de pele de coelho
e carbonato de cálcio.
Logo após, o desenho é transferido para o suporte, e a carnação é
pintada, com tempera de ovo, seguindo a técnica tradicional de
iconografia, anterior à técnica pintura à óleo. Esta técnica de
têmpera é a mesma utilizada na pintura de retábulos durante a Idade
Média. Sobre a grande mesa do atelier, pincéis, paletas, têmpera de ovo e
ícones.
Um trabalho de concentração, técnica apurada e muita calma. Musica
sacra ou o silêncio são os panos de fundo para este trabalho
interiorizado. A douração utiliza a técnica tradicional da cola de pele de coelho e bolo
de Armênia. O ícone recebe um elemento nobre, o ouro, que representa a
eternidade de Deus.
Pintura do fundo, chamada de
carnação. As luzes serão pintadas em camadas sucessivas. A madeira é
Imbuia com 60 anos de idade, de almofadas de antigas portas da Igreja de
Santa Terezinha, que iam parar nas mãos de um antiquário.
Em minhas mãos, viraram suporte para arte sacra.
Um ícone de anjo, coleção particular Dr. Fernando Davanzo, julho de
2002.
Os temas são variados, Jesus ressuscitado, um anjo, Jesus e seu amigo,
Nossa Senhora do Carinho. O prazer de pintar ícones, em silêncio ou com
uma boa musica de fundo, é inigualável. Trata-se de uma atividade
artística nobre e espiritual, utilizando materiais naturais, segundo a
técnica tradicional, empregada desde o séc. V pelos pintores
iconógrafos.
Jesus abraça o seu amigo. O amigo de Jesus
representa toda a humanidade. Este
ícone nos traz faz pensar na proximidade e no carinho de Deus para
conosco.
Ícone de Nossa Senhora do Carinho, iniciada no atelier Saint Luc, em Paris (2002), durante o curso com Hélène
Iankoff, iconógrafa francesa, discípula do Bispo e Iconógrafo Ortodoxo
Jean de Saint Denis.
Esquerda: Ícone para a Igreja Nossa Senhora
Aparecida, de Bragança Paulista apresentada aos fiéis em abril de 2002.
Direita: Ícone para a Igreja de São Sebastião,
Bairro
Água Comprida de Bragança Paulista (SP).
Ícone trifásico: Cristo Ressuscitado.
Coleção particular de José Roberto, 2009.
Sobre seus ícones contemporâneros, o artista declara:
-
"Apesar de saber que em iconografia teoricamente não devemos criar ou inovar, constatei, visitando os melhores iconógrafos da França e Grécia, que a maior parte deles deixa um toque pessoal, uma criação, inovação ou marca, que os destaca e diferencia dos demais.
Aqueles que se permitem uma liberdade de criação o fazem com propriedade, com um respeito sincero, devoção, e retidão de espírito.
Criar, no ambiente da iconografia, é visto como uma heresia, por alguns integralistas, mas, na minha opinião, pode ser encarado como um testemunho de fé, vocação básica de um iconógrafo.
Nesta ótica de respeito, criei aquele que é o primeiro ícone trifásico da história, onde podemos ver as chagas do Cristo na obscuridade, e novas formas e palavras de fé e paz sob luz ultra-violeta."