Sobre iconografia, diz o artista: - "
Meu interesse pela imagem do Cristo surgiu quando fiz o curso de Sindonologia, aos 15 anos de idade.
Passei a admirar os ícones sagrados logo no começo de minha primeira viagem de estudos pela Europa, em 1981, quando passei pela primeira vez pela comunidade de Taizé, na Borgonha, mas também visitando museus dos diversos países por onde passei.
Os ícones da Grécia, país onde completei os meus 18 anos de idade, ficaram gravados em minha memória, desde então.
Para quem gosta de arte sacra, os afrescos e ícones da Grécia são um caminho de aprendizado essencial."
Longe de serem objetos de idolatria ou adoração, como pretendem os iconoclastas, os ícones são atalhos e inspiração para nossa conversa com Deus, este amigo presente e superior, que nos acompanha.
Quanto mais aprendemos sobre a profundidade teológica da imagem e a herança cultural contida nos ícones, mais podemos compreender a seriedade e espiritualidade destes objetos que auxiliam no culto cristão.
Esta é a razão da iconografia através dos séculos. Grande parte dos fiéis eram analfabetos na maior parte dos séculos da cristandade. A Bíblia Sagrada chegou até nós com um esforço enorme de monges copistas.
Os textos da Bíblia são provenientes de um enorme conjunto de livros, copiados minuciosamente a mão, décadas após décadas, guardados pela Igreja durante séculos, até sua popularização definitiva, ocorrida somente após a invenção da reprodução gráfica, por Johann Gutenberg, no século XV.
Da mesma forma, as imagens sacras foram copiadas através dos séculos, por iconógrafos, copistas de imagens, para chegar até nós.
Muitos mártires sucumbiram sob a espada do iconoclasmo, durante séculos, para que as imagens iconográficas chegassem até nossos dias.
Este é mais um dos motivos pelos quais esta atividade é envolta de respeito.
Aula de iconografia no atelier Saint-Luc, de Paris, com Hélène Iankoff.
Esquerda: Ícone trifásico: Cristo Ressuscitado. Direita: São Jorge, ícone. Coleção particular de José Roberto, 2009.
Sobre seus ícones contemporâneros, o artista declara:
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"Apesar de saber que em iconografia teoricamente não devemos criar ou inovar, constatei, visitando os melhores iconógrafos da França e Grécia, que a maior parte deles deixa um toque pessoal, uma criação, inovação ou marca, que os destaca e diferencia dos demais.
Aqueles que se permitem uma liberdade de criação o fazem com propriedade, com um respeito sincero, devoção, e retidão de espírito.
Criar, no ambiente da iconografia, é visto como uma heresia, por alguns integralistas, mas, na minha opinião, pode ser encarado como um testemunho de fé, vocação básica de um iconógrafo.
Nesta ótica de respeito, criei aquele que é o primeiro ícone trifásico da história, onde podemos ver as chagas do Cristo na obscuridade, e novas formas e palavras de fé e paz sob luz ultra-violeta."