Em 1954, Dr. Xavier, o médico que tratava de Cândido Portinari descobriu que as tintas tóxicas provocavam alergias em seu paciente e o proibiu de pintar. - “Estou proibido de viver...” disse o artista, que continuou a pintar, com menor frequência. Seu médico aconselhou-o então a escrever. Portinari passou a escrever versos, ilustrando-os com alguns desenhos e lamentando-se de que seria um ótimo poeta, caso fosse tão talentoso com a caneta, como era com os pincéis.
A morte de Portinari aos 59 anos de idade (1962) é atribuída ao saturnismo (intoxicação por chumbo). O grande muralista Brasileiro foi mais uma vítima da química contida em pigmentos como o amarelo de Nápoles, Branco de Prata e de alguns verdes. Os metais tóxicos dessas cores estavam na origem da hemorragia intestinal que o fez agonizar até a morte.
O CHUMBO E O SATURNISMO
A intoxicação por chumbo faz referência ao deus Saturno, idolatrado na Roma antiga. Os romanos acreditavam que o metal era um presente oferecido pelo deus Saturno e o empregavam na construção dos aquedutos. Produziam o acetato de chumbo, utilizado para adoçar o vinho.
Esta mistura de vinho adocicado por acetato de chumbo, está na origem da intoxicação que seria a causa da imbecilidade, perversidade e esterilidade de alguns dos imperadores Romanos, como Nero, Calígula e Caracala. O Imperador Domiciano projetou fontes das quais jorrava vinho adocicado por chumbo, nos jardins de seus palácios.
Além dos já citados pintores Van Gogh, Goya e Portinari, intoxicados pelas tintas, o saturnismo também é considerado a causa da morte do vitralista e pintor flamengo Dirk Vellert (que viveu entre 1511 e 1547 em Anvers, que teria sido intoxicado pelas grisalhas e componentes dos vidros coloridos) e do compositor Beethoven (cuja fonte pode ter sido a tipografia das suas partituras).
Dietrich e seus colaboradores (2001), após examinarem 195 adolescentes (entre 16 e 17 anos) de Cincinnati (EUA), acompanhando-os desde seu nascimento, notaram que os bebês com índices mais elevados de chumbo no sangue apresentaram maior freqüência de atitudes anti-sociais na adolescência, como brigas de rua, vandalismo e pequenos roubos”. A tendência para violência estaria também entre mais um dos sintomas do saturnismo, segundo este pesquisador. A intoxicação por chumbo tem efeito cumulativo no organismo humano, causando neuropatias, sendo que as intoxicações crônicas podem causar fadiga, irritabilidade, anemia, cefaléia, distúrbios visuais, alterações dos rins e sensoriais, dores nos músculos e ossos. Dores abdominais, como uma sensação de uma barra no estômago, náuseas, vômitos e perda de peso também ocorrem.
As intoxicações agudas podem levar o paciente ao delírio, com forte cefaléia, que pode gerar convulsões, levando até a morte.
Quando atingido devido ao uso contínuo de grisalhas (sem as devidas precauções de proteção de luvas e máscaras) utilizadas em vitrais, que contém teor de chumbo em sua composição, o tratamento com a ingestão controlada e contínua de um quelante natural a base de chlorella, pode dar bons e rápidos resultados de desintoxicação. Esta afirmação é embasada em experiência própria do autor, que foi intoxicado pelo uso contínuo de grisalhas e cores de cementação, em 2006. Produtos à base de chlorella já estão disponíveis no mercado Brasileiro.
O chumbo pode ser detectado na queratina dos cabelos e unhas (portanto, não as roa) através do exame Mineralograma, feito através da análise de um fio de cabelo. É incorporado nos tecidos ósseos, originando a osteoporose, se a exposição for prolongada.
Pode gerar esterilidade e aborto em mulheres.
As principais fontes de intoxicação para os seres humanos são as tintas que contém chumbo, como o branco de prata e amarelo de Nápoles verdadeiro, entre outros, mas também a exposição aos componentes de baterias de automóveis, pilhas, soldas e emissões de gases industriais.
Pessoas com projéteis alojados em seus corpos podem desenvolver o saturnismo, cujas manifestações vão desde amolecimento dos dentes até distúrbios neurológicos variando de um quadro clínico evidente até alterações bioquímicas mais sutis. Os sintomas mais comuns são as dores abdominais severas, úlceras orais, constipação, parestesias de mãos e pés e a sensação de gosto metálico.
O exame físico pode demonstrar a presença de uma linha de depósito de chumbo na gengiva, neuropatia periférica, anemia (porfiria secundária e inibição da medula óssea), disfunção renal, hepatite e encefalopatia, com alterações de comportamento e redução no QI.
Em alguns casos de intoxicação, o tratamento com queladores (ou quelantes) pode aliviar os sintomas como tosse crônica, erupções cutâneas. Em todo caso de intoxicação, procure um médico toxicologista ou ocupacional, e leve até ele informações sobre os materiais artísticos que manipula. Saiba mais. |